ENEM 2008
Texto para as questões 1 e 2
A Ema
O
surgimento da figura da Ema no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda quinzena
de junho, indica o início do inverno para os índios do sul do Brasil e o começo
da estação seca para os do norte. É limitada pelas constelações de Escorpião e
do Cruzeiro do Sul, ou Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o Cut’uxu segura
a cabeça da ave para garantir a vida na Terra, porque, se ela se soltar, beberá
toda a água do nosso planeta. Os tupis-guaranis utilizam o Cut'uxu para
se orientar e determinar a duração das noites e as estações do ano.
A
ilustração a seguir é uma representação dos corpos celestes que constituem a
constelação da Ema, na percepção indígena.
2 Assinale a opção correta a respeito da linguagem empregada no
texto A Ema.
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo utilizado pelas populações próximas às aldeias indígenas.
B) O autor se expressa em linguagem formal em todos os períodos do
texto.
C) A ausência da
palavra Ema no início do período “É limitada (...)” caracteriza registro oral.
D) A palavra Cut’uxu
está destacada em itálico porque integra o vocabulário da linguagem
informal.
E) No texto,
predomina a linguagem coloquial porque ele consta de um almanaque.
Comentário: Em todos os
períodos do texto, o autor se expressa em linguagem formal. Não há, no texto,
nenhum aspecto da linguagem coloquial, ou outra variante que não seja a formal.
Como é um texto informativo, de divulgação cultural, a preferência é pelo
padrão culto da língua portuguesa.
Texto para as questões 12 e 13
1 Torno a
ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me
torna a pôr nestes outeiros,
Onde um
tempo os gabões deixei grosseiros
4 Pelo traje
da Corte, rico e fino.
Aqui
estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis,
meus doces companheiros,
7 Vendo correr
os míseros vaqueiros
Atrás de
seu cansado desatino.
Se o bem
desta choupana pode tanto,
10 Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da
Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui
descanse a louca fantasia,
13 E o que até
agora se tornava em pranto
Se
converta em afetos de alegria.
Cláudio
Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia
dos
inconfidentes.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.
B)
A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma
contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano
da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
C) O bucolismo presente nas
imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação
do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida
nacional.
D) A relação de vantagem da
“choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que
reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a
Metrópole.
E) A realidade de atraso social,
político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema
pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
Comentário:
O conflito que se instala no poema é o seguinte: logo na primeira estrofe,
percebemos a clara oposição entre a refinada corte (“com traje rico e fino”) e
a rústica colônia (associada a “montes” e “outeiros”). A oposição Cidade-Campo,
lugar-comum da temática do Arcadismo, é assimilada, no caso desse poema, à
oposição Metrópole-Colônia. Por ter vivido em Portugal, o poeta experimentou a
civilidade lisboeta; retornando ao Brasil, confrontou-se com os rudes montes e
outeiros de sua terra natal, quase sempre idealizados em seus poemas bucólicos.
13
Assinale a opção
que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se
dirige ao seu interlocutor.
A)
“Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v.1)
B) “Aqui estou entre Almendro,
entre Corino,” (v.5)
C) “Os meus fiéis, meus doces
companheiros,” (v.6)
D) “Vendo correr os míseros
vaqueiros” (v.7)
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro
encanto,” (v.11)
Comentário:
No verso apresentado pela alternativa A, “ó, montes” é uma apóstrofe – vocativo
dirigido ao interlocutor imaginário do eu lírico. Em outras palavras, é como se
o leitor falasse com os montes.
Assinale o trecho do diálogo que
apresenta um registro informal, ou coloquial, da linguagem.
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que você esteve?!”
B) “E lembre-se: se você disser
uma mentira, os seus chifres cairão!”
C) “Estou atrasado porque ajudei
uma velhinha a atravessar a rua...”
D) “...e ela me deu um anel
mágico que me levou a um tesouro”
E) “mas bandidos o roubaram e os
persegui até a Etiópia, onde um dragão...”
Comentário:
As três ocorrências de registro informal ou coloquial estão em: “tá” equivalente
a está; a palavra “legal”, com o sentido de certo, em ordem, bem; uso do
diminutivo com valor de intensificação no adjetivo substantivado “espertinho”.
37 - Os signos visuais, como meios de comunicação, são classificados em categorias de acordo com seus significados. A categoria denominada indício corresponde aos signos visuais que têm origem em formas ou situações naturais ou casuais, as quais, devido à ocorrência em circunstâncias idênticas, muitas vezes repetidas, indicam algo e adquirem significado. Por exemplo, nuvens negras indicam tempestade. Com base nesse conceito, escolha a opção que representa um signo da categoria dos indícios.
Comentário: (B)
Na obra Entrudo, de
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), apresentada acima,
A) registram-se cenas da vida
íntima dos senhores de engenho e suas relações com os escravos.
B) identifica-se a presença de
traços marcantes do movimento artístico denominado Cubismo.
C) identificam-se, nas
fisionomias, sentimentos de angústia e inquietações que revelam as relações
conflituosas entre senhores e escravos.
D)
observa-se a composição harmoniosa e destacam-se as imagens que representam
figuras humanas.
E) constata-se que o artista
utilizava a técnica do óleo sobre tela, com pinceladas breves e manchas, sem
delinear as figuras ou as fisionomias.
Comentário:
A única alternativa cabível é a D, se analisadas todas as alternativas. Tendo
em vista que o “entrudo” foi um antigo folguedo carnavalesco que precedeu o
“Carnaval”, Debret tentou retratar, com um poder de observação ímpar, situações
cotidianas de interação entre senhores de engenho e escravos, bem como os tipos
do Brasil Joanino e do Primeiro Reinado. Observa-se,
portanto, em “Entrudo”, a presença de figuras humanas, e, sem dúvida, sua
composição se apresenta muito harmoniosa.
40 - Entre os seguintes ditos populares, qual deles melhor corresponde à figura acima?
A) Com perseverança, tudo se alcança.
B) Cada macaco no seu galho.
C) Nem tudo que balança cai.
D) Quem tudo quer, tudo perde.
E) Deus ajuda quem cedo madruga.
Comentário: O dito popular que melhor corresponde com a figura da questão é o da letra A, já que o caracol é lento e para ele é difícil começar a andar e carregar seu casco, mas ele persiste e consegue levar tranquilamente sua “casa” nas costas. O difícil, então, é só começar, porque depois o fardo se torna suave e fácil, e é representado pela cama elástica.
casas de barro e de cimento
armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço
e pelo hotel, perguntando:
— Quantos são aqui? Pergunta
triste, de resto. Um homem dirá:
— Aqui havia mulheres e
criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos. E outro:
— Amigo, tenho aqui esta mulher,
este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se
quiser. Querendo levar todos, é favor... (...) E outro:
— Dois, cidadão, somos dois.
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade
jamais sairá de meu quarto e de meu peito!
Rubem
Braga. Para gostar de ler. v. 3.
São
Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
O fragmento acima, em que há
referência a um fato sócio-histórico — o recenseamento —, apresenta
característica marcante do gênero crônica ao
A) expressar o tema de forma
abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a idéia de uma coisa por meio
de outra.
B) manter-se fiel aos
acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço.
C) contar história centrada na
solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e
revelando-os pouco a pouco.
D) evocar, de maneira satírica, a
vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para
manter as pessoas informadas.
E)
valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto
que recebe tratamento estético.
Comentário:
A crônica é um texto curto que tem como característica narrar/comentar fatos
que acontecem no cotidiano, através de uma linguagem simples (coloquialismos,
oralidade), o que o torna próximo de qualquer leitor. Por isso é uma leitura
agradável em que o leitor interage com os acontecimentos e, às vezes, até
identifica-se com as ações de alguns personagens. No caso da crônica literária de Rubem Braga, fatos do
cotidiano — como o recenseamento de São Paulo e outras digressões — recebem tratamento estético, na
medida em que o texto não se preocupa só em transmitir informações, mas também
em apresentá-las artisticamente, dando uma atenção especial ao modo de dizer as
coisas.
58 - A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras! Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha
A) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa.
B) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional.
C) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.
D) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia.
E) imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada.
Comentário:(E)
58 - A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras! Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha
A) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa.
B) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional.
C) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.
D) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia.
E) imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada.
Comentário:(E)
Fonte:http://www.joseferreira.com.br/blogs/lingua-portuguesa/enem/questoes-de-lingua-portuguesa-no-enem-2008-gabarito-comentado/
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