quarta-feira, 27 de julho de 2016

Prova ENEM 2008 - Língua Portuguesa - Gabarito


ENEM 2008

Texto para as questões 1 e 2

A Ema

O surgimento da figura da Ema no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda quinzena de junho, indica o início do inverno para os índios do sul do Brasil e o começo da estação seca para os do norte. É limitada pelas constelações de Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o Cut’uxu segura a cabeça da ave para garantir a vida na Terra, porque, se ela se soltar, beberá toda a água do nosso planeta. Os tupis-guaranis utilizam o Cut'uxu para se orientar e determinar a duração das noites e as estações do ano.

A ilustração a seguir é uma representação dos corpos celestes que constituem a constelação da Ema, na percepção indígena.
Almanaque Abril


A próxima figura mostra, em campo de visão ampliado, como povos de culturas não-indígenas percebem o espaço estelar em que a Ema é vista.


 Prova deLíngua Portuguesa 2008


2 Assinale a opção correta a respeito da linguagem empregada no texto A Ema.

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo utilizado pelas populações próximas às aldeias indígenas.

B) O autor se expressa em linguagem formal em todos os períodos do texto.

C) A ausência da palavra Ema no início do período “É limitada (...)” caracteriza registro oral.

D) A palavra Cut’uxu está destacada em itálico porque integra o vocabulário da linguagem informal.

E) No texto, predomina a linguagem coloquial porque ele consta de um almanaque.



Comentário: Em todos os períodos do texto, o autor se expressa em linguagem formal. Não há, no texto, nenhum aspecto da linguagem coloquial, ou outra variante que não seja a formal. Como é um texto informativo, de divulgação cultural, a preferência é pelo padrão culto da língua portuguesa.



Texto para as questões 12 e 13

1   Torno a ver-vos, ó montes; o destino

     Aqui me torna a pôr nestes outeiros,

     Onde um tempo os gabões deixei grosseiros

4   Pelo traje da Corte, rico e fino.



     Aqui estou entre Almendro, entre Corino,

     Os meus fiéis, meus doces companheiros,

7   Vendo correr os míseros vaqueiros

     Atrás de seu cansado desatino.



     Se o bem desta choupana pode tanto,

10 Que chega a ter mais preço, e mais valia

     Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,



      Aqui descanse a louca fantasia,

13  E o que até agora se tornava em pranto

      Se converta em afetos de alegria.



Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia
                                                                                                                  dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.


12 Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.

A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.

B) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.

C) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.

D) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.

E) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.



Comentário: O conflito que se instala no poema é o seguinte: logo na primeira estrofe, percebemos a clara oposição entre a refinada corte (“com traje rico e fino”) e a rústica colônia (associada a “montes” e “outeiros”). A oposição Cidade-Campo, lugar-comum da temática do Arcadismo, é assimilada, no caso desse poema, à oposição Metrópole-Colônia. Por ter vivido em Portugal, o poeta experimentou a civilidade lisboeta; retornando ao Brasil, confrontou-se com os rudes montes e outeiros de sua terra natal, quase sempre idealizados em seus poemas bucólicos.  



13 Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor.

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v.1)

B) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,” (v.5)

C) “Os meus fiéis, meus doces companheiros,” (v.6)

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v.7)

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,” (v.11)



Comentário: No verso apresentado pela alternativa A, “ó, montes” é uma apóstrofe – vocativo dirigido ao interlocutor imaginário do eu lírico. Em outras palavras, é como se o leitor falasse com os montes.



14
Prova de Língua Portuguesa 2008



Assinale o trecho do diálogo que apresenta um registro informal, ou coloquial, da linguagem.

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que você esteve?!”

B) “E lembre-se: se você disser uma mentira, os seus chifres cairão!”

C) “Estou atrasado porque ajudei uma velhinha a atravessar a rua...”

D) “...e ela me deu um anel mágico que me levou a um tesouro”

E) “mas bandidos o roubaram e os persegui até a Etiópia, onde um dragão...”



Comentário: As três ocorrências de registro informal ou coloquial estão em: “tá” equivalente a está; a palavra “legal”, com o sentido de certo, em ordem, bem; uso do diminutivo com valor de intensificação no adjetivo substantivado “espertinho”.

37 - Os signos visuais, como meios de comunicação, são classificados em categorias de acordo com seus significados. A categoria denominada indício corresponde aos signos visuais que têm origem em formas ou situações naturais ou casuais, as quais, devido à ocorrência em circunstâncias idênticas, muitas vezes repetidas, indicam algo e adquirem significado. Por exemplo, nuvens negras indicam tempestade. Com base nesse conceito, escolha a opção que representa um signo da categoria dos indícios.


Comentário: (B)



38
Prova de Língua Portuguesa 2008




Na obra Entrudo, de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), apresentada acima,



A) registram-se cenas da vida íntima dos senhores de engenho e suas relações com os escravos.

B) identifica-se a presença de traços marcantes do movimento artístico denominado Cubismo.

C) identificam-se, nas fisionomias, sentimentos de angústia e inquietações que revelam as relações conflituosas entre senhores e escravos.

D) observa-se a composição harmoniosa e destacam-se as imagens que representam figuras humanas.

E) constata-se que o artista utilizava a técnica do óleo sobre tela, com pinceladas breves e manchas, sem delinear as figuras ou as fisionomias.



Comentário: A única alternativa cabível é a D, se analisadas todas as alternativas. Tendo em vista que o “entrudo” foi um antigo folguedo carnavalesco que precedeu o “Carnaval”, Debret tentou retratar, com um poder de observação ímpar, situações cotidianas de interação entre senhores de engenho e escravos, bem como os tipos do Brasil Joanino e do Primeiro Reinado. Observa-se, portanto, em “Entrudo”, a presença de figuras humanas, e, sem dúvida, sua composição se apresenta muito harmoniosa.


40 -
Prova de Língua Portuguesa 2008
Entre os seguintes ditos populares, qual deles melhor corresponde à figura acima?

A) Com perseverança, tudo se alcança.
B) Cada macaco no seu galho.
C) Nem tudo que balança cai.
D) Quem tudo quer, tudo perde.
E) Deus ajuda quem cedo madruga.

Comentário: O dito popular que melhor corresponde com a figura da questão é o da letra A, já que o caracol é lento e para ele é difícil começar a andar e carregar seu casco, mas ele persiste e consegue levar tranquilamente sua “casa” nas costas. O difícil, então, é só começar, porque depois o fardo se torna suave e fácil, e é representado pela cama elástica.


46 São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas

casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:

— Quantos são aqui? Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:

— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos. E outro:

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor... (...) E outro:

— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu quarto e de meu peito!



Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.

São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).



O fragmento acima, em que há referência a um fato sócio-histórico — o recenseamento —, apresenta característica marcante do gênero crônica ao



A) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a idéia de uma coisa por meio de outra.

B) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço.

C) contar história centrada na solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e revelando-os pouco a pouco.

D) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as pessoas informadas.

E) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto que recebe tratamento estético.



Comentário: A crônica é um texto curto que tem como característica narrar/comentar fatos que acontecem no cotidiano, através de uma linguagem simples (coloquialismos, oralidade), o que o torna próximo de qualquer leitor. Por isso é uma leitura agradável em que o leitor interage com os acontecimentos e, às vezes, até identifica-se com as ações de alguns personagens.  No caso da crônica literária de Rubem Braga, fatos do cotidiano — como o recenseamento de São Paulo e outras digressões — recebem tratamento estético, na medida em que o texto não se preocupa só em transmitir informações, mas também em apresentá-las artisticamente, dando uma atenção especial ao modo de dizer as coisas.


58 - A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras! Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era  um senhor de engenho de Pernambuco.
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).

Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha

A) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa.
B) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional.
C) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.
D) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia.
E) imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada.
Comentário:(E)


Fonte:http://www.joseferreira.com.br/blogs/lingua-portuguesa/enem/questoes-de-lingua-portuguesa-no-enem-2008-gabarito-comentado/

Nenhum comentário:

Postar um comentário