Vícios de Linguagem
São desvios das
normais gramaticais do idioma, o desrespeito às regras da língua-padrão, em
virtude do desconhecimento ou da má assimilação dessas regras por parte de quem
fala ou escreve.
1. Solecismo
Solecismo é uma inadequação na estrutura sintática da
frase com relação à gramática normativa do idioma.
Pode ser:
a)
De concordância:
"Fazem três anos que não vou ao médico."
(Faz três anos que não vou ao médico.)
"Aluga-se salas nesse edifício."
(Alugam-se salas nesse edifício.)
“Haviam
muitas pessoas na fila.” (Havia muitas pessoas na fila.)
“A turma gostaram da festa.” (A turma gostou da
festa.)
“Quem fez isso foi eu.”(Quem fez isso fui eu.)
b)
De regência:
"Ontem eu assisti um filme
de época." (Ontem eu assisti a um filme de época.)
“Obedeça o chefe”.
(Obedeça ao chefe.)
“Não lhe conheço.” (Não
o conheço.)
c)
De colocação:
"Me empresta um lápis, por favor."
(Empresta-me um lápis, por favor.)
"Me
parece que ela ficou contente." (Parece-me que ela ficou contente.)
"Eu
não respondi-lhe nada do que perguntou." (Eu não lhe respondi nada
do que perguntou.)
2. Barbarismo
É qualquer desvio que
se comete relativo à palavra. Pode ser:
a)
Ortoépico (provocando as cacoépias): fóme, hómem, compania,
cadalço, fleira, arto, gor etc.
b)
Prosódico (provocando as silabadas): récorde, íbero, rubrica,
júniors, sêniors, aríete, boemia, Niagara etc.
c)
Gráfico e/ou flexional
(provocando as cacografias) : a
janta, maisena, eu intervi, fiquei pasmo, um bacanal, os cidadões, fazer questã
etc.
d)
Semântico (provocando os deslizes): cozinhar mal e porcamente,
sair ao pai cuspido e escarrado, a mala está leviana, dar uma mão
de tinta na porta, curar minha pigarra, não comer peixe que tem espinho,
vultuosa quantia, ovos estalados, preço barato, preço caro,
raspar as axilas, fazer algo com maestria.
Observação:
Comete barbarismo quem usa estrangeirismo desnecessariamente.
3.
Ambiguidade ou Anfibologia
Ocorre
quando, por falta de clareza, há duplicidade de sentido da frase.
Ex.:
“Beatriz
comeu um doce e sua irmã também.” (Por : Beatriz comeu um doce, e sua irmã
também).
“Mataram
a vaca da sua tia.” ( Por: Mataram a vaca que era da sua tia).
“Preciso
de uma empregada para ordenhar vacas e um empregado forte.” ( Por: Preciso de
uma empregada para ordenhar vacas e de um empregado forte.)
4. Pleonasmo
vicioso ou redundância ou tautologia ou perissologia.
É a repetição de ideias
mediante o emprego de palavras ou expressões distintas.
Ex.: subir para
cima, descer para baixo, sair para fora, entrar para dentro, hemorragia de
sangue, vereador municipal, hepatite do fígado, novidade inédita, repetir outra
vez, emulsão de óleo, adiar para depois, antecipar para antes, panorama geral,
exultar de alegria, breve alocução, todos foram unânimes, conviver juntos,
inventar novos, criar novos, sentidos pêsames, efusivos parabéns, demente
mental.
5. Cacofonia
Ocorre
quando a junção de duas ou mais palavras na frase que provoca som desagradável
ou palavra inconveniente. Ex.: Ela
tinha, nosso hino, por cada limão, uma mala, boca
dela etc.
A
cacofonia compreende:
a) o
cacófato (é o som obsceno). Ex.: Hilca ganhou; ele marca
gol; mande-me já isso; escapei de uma boa hoje.
b) o eco (ocorre quando há palavras no texto em prosa com terminações
iguais ou semelhantes, provocando dissonância). Ex.: Vicente já
não sente dores de dente
tão frequentemente como antigamente, quando estava no Oriente,
na casa de um parente doente.
O eco na prosa é um defeito, mas na poesia é o fundamento da
rima. Ainda na prosa, quando usado com parcimônia, torna-se uma virtude.
Veja-se o caso dos provérbios, em que se procura até forcejá-lo: Muito riso,
pouco siso; Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.
Nesse caso o eco recebe o nome especial de homeoteleuto.
c) o
parequema (é a aproximação de sons consonantais idênticos ou
semelhantes.) Ex.: cone negro, vaca cara, pouco
caso, vista terrível, uma mala etc.
Recebe o nome de colisão
se os sons aproximados forem sibilantes (sê-sê). Ex.: Levante-se cedo,
porque o lance será importante!
d) o
hiato (é a aproximação de vogais idênticas, geralmente a). Ex.: traga
a água, há aula aos sábados.
6. Arcaísmo
É o emprego de
palavras, expressões ou construções desusadas, antigas, que já não pertencem ao
idioma em seu estágio atual. Ex.: hum, pantano, senhôra, tinha abrido,
vosmecê etc.
Opõe-se ao Neologismo,
que não é propriamente vício de linguagem, já que descobrimentos tecnológicos,
novas modalidades de esporte, novas realidades nas ciências de todos os tipos,
provocam o aparecimento cada vez mais de novos vocábulos, Ex.: carro hidramático, surfar, windsurfar, interfonar,
bipar, auditar, estagflação, carreata, tablitar etc.
Muitas vezes verbos
são formados de siglas criadas; cipar (de CIP, Conselho Interministerial
de Preços), dedetizar (de DDT), cutizar sindicatos (de CUT,
Central Única de Trabalhadores) etc.
Encontram-se ainda,
na língua cotidiana, estes neologismos, nem sempre aceitos por todos os
autores: acessar, buzinaço, elencar itens, estiletar, formatar, ibope (=
popularidade), ideologizar, impactar, importantizar, leiautizar, agudizar,
oportunizar, otimizar, panelaço, parametrizar, performar, precificar,
priorizar, roteirizar, unitar, urgenciar e tantos outros que surgem a cada dia.
Muitas vezes, de fato, ocorrem neologismos inaceitáveis, tais quais showmício
e overdose, em que se mistura
palavras de língua estrangeira com o final de palavra nossa. Essa prática,
própria de gente sem nenhuma escolaridade e responsabilidade, é absolutamente
imperdoável e deve ser repelida com veemência, sobretudo pelas pessoas de
bom-senso.
7. Preciosismo ou
perífrase
É o exagero na
linguagem, em prejuízo da naturalidade e da clareza.
Ex.: O equóreo
elemento erguia bem alto as ondas. (Por: O mar estava agitado)
Na pretérita
centúria, meu progenitor presenciou o acasalamento do astro-rei com a rainha da
noite. (Por: No século passado, meu avô presenciou o eclipse solar.)
Baixar a inflação?
Isso é colóquio flácido para acalentar bovino. (Por: Isso é conversa mole para
boi dormir.)
Constitui preciosismo,
ainda, a articulação afetada dos erres e esses finais: cantarr, verr,
mentirr, vocês, portuguêss, vezz etc.
8. Plebeísmo
É qualquer
desvio que caracteriza a trivialidade ou a falta de instrução. Exemplo maior de
plebeísmo são as gírias.
Ex.: Aquele
cara é um babacão.
Pintei
no pedaço, ganhei a mina, mas acabei dançando, malandro: a mina tava amarrada
em outro carinha. Me achaquei!
Referência: Nossa gramática - teoria e prática , Luiz Antonio Sacconi
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