quinta-feira, 28 de julho de 2016

Figuras de Linguagem

    FIGURA DE LINGUAGEM  é um recurso que modifica os significados denotativos, convencionais das palavras, emprestando-lhes novas possibilidades de expressão. Usado na linguagem literária.
    Podem ser:
  1. figuras de palavra;
  2. figuras de pensamento;
  3. figuras sonoras;
  4. figuras de sintaxe ou de construção.
1. FIGURAS DE PALAVRA

   Ocorrem sempre que uma palavra afasta-se do seu significado normal, adquirindo outro (ou outros). As mais frequentes são:

1.METÁFORA: é a figura de palavra em que se estabelece uma relação de semelhança, de comparação entre dois elementos de natureza diferente sem a presença de conectivos ou palavras comparativas.
Exemplo:
             A mãe se despediu da filha com o coração sangrando.

  • Metáfora impura: Estão presentes os dois termos da comparação. Ex.: A Amazônia é o pulmão do mundo.  (Amazônia - pulmão)
  • Metáfora pura: Não está presente nenhum termo da comparação. Ex.: Na sua mente povoa só maldade.
Observações:

1. À sequência de metáforas se dá o nome de alegoria. Ex. "A felicidade é um estribo para o gênio, uma piscina para o cristão, um tesouro para o homem hábil, para os fracos um abismo." 

2. Quando o segundo termo da metáfora impura vem precedido de conjunções subordinativas comparativas "como, assim como, igual a,  qual" ou de qualquer outro elemento que a substitua como o verbo "parecer" ou a expressão  "semelhante a", temos a comparação. Ex.:
          
          O moleque descia a ladeira parecendo um foguete.

          Como uma pluma, a borboleta pousa na flor.
 
         É que teu riso penetra n'alma
         Como a harmonia de uma orquestra santa
                                                                                            (Castro Alves)

          Esse homem é bravo como uma fera!
          Essa mulher é perigosa qual uma cascavel! 

Nesse caso, o predicativo pode vir subentendido. Ex.: 

           Esse homem é como uma fera!
           Essa mulher é qual uma cascavel!

3. Uma variedade de metáfora muito utilizada é a sinestesia, que é o cruzamento de duas ou mais sensações distintas ou , então, a atribuição a uma coisa de qualidade que lhe é incompatível, aceita apenas no plano figurado. Ex.:

           tosse gorda (sensação auditiva x sensação tátil ou visual) 
    
Outros exemplos:
grito áspero, dizer palavras douradas, sorriso amarelo, duras recordações, pálidas esperanças, doce infância, ouvir cabelos ao vento, agressão à vista, nosso olhos trocaram pensamentos.

Expressiva metáfora sinestésica se encontra na letra de uma de nossas canções populares: 

 "Moça bonita, nas pontas da sua trança amarrei minha ilusão". 
 

 
3. CATACRESE é a figura de palavra que consiste no emprego de uma palavra no seu sentido figurado por falta de uma específica para designar nova situação, ser ou elemento.
Exemplo:

              Inutilidades
Ninguém coça as costas da cadeira.
Ninguém chupa a manga da camisa.
O piano jamais abana a cauda.
Tem asa, porém não voa a xícara.
                                                                       (José Paulo Paes)

4. Metonímia é a figura de palavra que consiste no emprego de uma palavra no lugar de outra por causa da proximidade de sentido entre elas. Relação de causa ou decorrência.
Exemplo:
              Quantas cabeças de gado há no pasto?

Há metonímia quando se emprega:                       Exemplos
  • o autor pela obra;                                                           É bom ouvir Luiz Gonzaga e Gonzaguinha.
  • o concreto pelo abstrato,                                                Meu pai tem um papo cabeça. (inteligente)
  • o abstrato pelo concreto;                                                A velhice precisa ser respeitada. (pessoas idosas)
  • o continente pelo conteúdo;                                           Vou tomar uma xícara de café.(o café contido )
  • o inventor pela coisa inventada                                      A criança se cortou com uma gilete. (Gillete, inventor)
  • o lugar ou a marca pelo produto;                                    Vou comprar um champanhe.(o vinho da França)
  • a parte pelo todo;                                                             Precisava de um teto onde morar. (a casa)
  • o singular pelo plural;                                                      O paulistano é trabalhador.(0s paulistanos)
  • a matéria pelo objeto;                                                      Os bronzes soavam à entrada da noiva. (os sinos)
  • o instrumento pela pessoa.                                               Minha filha é um bom garfo.(come bem e usa garfo
  • a causa pelo efeito, ou vice-versa:                                   Sócrates bebeu a morte. (veneno.) 
  • o instrumento pela causa ativa:                                        Ser uma pena brilhante. (escritor.)
  • o possuidor pelo possuído , ou vice-versa.                       Ir ao barbeiro.(  barbearia)


  •  


Estão aí incluídos os casos de sinédoque, que se relacionam com o conceito de  extensão, ao passo que a metonímia abrange apenas os casos de analogia ou de relação. Não é importante distinguir a metonímia da sinédoque.
 

5. Antonomásia (perífrase) é a figura de palavra em que se designa um ser por uma de suas características ou atributos, substituição de um nome próprio por um nome comum, por um apelido ou por um fato ou título que o celebrizou.
Exemplo:
              O rei do futebol marcou seu milésimo gol no estádio do Maracanã.
             

              O Mestre = Jesus Cristo                           A Cidade Luz = Paris
             Águia de Haia = Rui Barbosa                  O rei das selvas = o leão

    

   A antonomásia é uma variante da metonímia , que consiste na substituição de um nome por outro que com ele seja afim semanticamente.
   Quando a referência é a nomes próprios, convém que todos os elementos que constituem a antonomásia  estejam grafados com inicial maiúscula, com exceção dos vocábulos átonos.





6. Perífrase é uma figura de palavras node ocorre rodeio de palavras, circunlóquio, ou seja, uma forma indireta de se chegar a um assunto.
Exemplo:
               A mais antiga das profissões. ( para prostituição)

7. Sinestesia é a figura de palavra que consiste na mistura de sensações, emoções e impressões percebidas por diferentes órgãos do sentido humano.
Exemplo:
              "O verso era um abraço salgado
              Que os peixes telegrafaram."
                                                                              (Antônio Carlos Schin)


2.  FIGURAS DE PENSAMENTO
    São aquelas que se apoiam em ideias. As mais recorrentes são:

1. Eufemismo é o emprego de termos mais agradáveis, para suavizar a expressão.
Exemplo:
               Deus, que teus anos encurtou, olhará por você.

2. Hipérbole é o exagero da expressão para realçar uma ideia.
Exemplo:
               Já disse isso a você um milhão de vezes.

3. Ironia é o emprego de palavras que dizem o contrário do que se pensa, a fim de criticar, ironizar.
Exemplo:
               "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis." (M. Assis)

4. Prosopopeia ou Personificação é a atribuição de características humanas a seres não humanos.
Exemplo:
               "Árvores [...] pedem socorro[...]
               O céu tapa o rosto."
                                                                (Raul Bopp)

5. Apóstrofe é a interrupção do discurso para invocar alguém ou alguma coisa de forma emotiva.
Exemplo:
               "Senhor Deus dos desgraçados!
               Dizei-me, vós, Senhor Deus!"
                                                                  (Castro Alves)

6. Gradação é o emprego de uma sequência de palavras em sentido crescente ou decrescente.
Exemplo:
               "Anda, corre, voa, senão perdes o trem." (Othon M. Garcia)

7. Antítese é o emprego de palavras ou ideias com sentidos opostos.
Exemplo:
              Para Alfredo, o socialismo é mau e o capitalismo é bom.

8. Paradoxo é a figura de pensamento que expressa a contradição.
Exemplo:
              "Ia divina, num simples vestido roxo, que a vestia como se a despisse".
                                                                                                     (Raul Pompéia)


3. FIGURAS SONORAS

1. Onomatopeia é a palavra que imita ruídos e sons da natureza ou sons que os animais emitem. O som pode também ser semelhante ao que se quer representar.
Exemplo:
               "Ela digitava rápido.
               Tec-tec-tec."
                                                             (Milu Leite)

Observação:
    Há muito tempo as pessoas se perguntam se o significado das palavras é arbitrário ou não, isto é, se existe ou não uma relação entre seu som e seu significado. Esta relação aparece nas palavras formadas por onomatopeias, que alguns linguistas veem como a forma primitiva da comunicação entre os humanos. A onomatopeia é uma forma linguística que procura sugerir ou reproduzir um determinado som.
    A maioria dos verbos que indicam vozes de animais foi criada por onomatopeias: miar, cacarejar, arrulhar, piar, relinchar, grunhir, etc.
    Algumas palavras estão de tal modo incorporadas ao vocabulário, que nem nos lembramos da sua origem onomatopeica. É o caso de farfalhar, gaguejar, trovão, balbuciar.


2. Aliteração são fonemas consonantais que se repetem com efeitos sonoros.
Exemplo:
               "Atriz atroz, atrás há três." (Emílio de Menezes)

3. Assonância é a repetição de sons vocálicos iguais ou semelhantes,   
Exemplo:
               "Aamanhã, sou Anna
      Da cama, da cana, fulana, sacana..."      (Chico Buarque de Holanda)

4. Paronomásia é o encontro de duas palavras muito semelhantes quanto à forma.
Exemplo:
               "Ser capaz como um rio,  (...) de lavar do
                       límpido a mágoa da mancha..."          (Thiago de Mello)
                                                


4. FIGURAS DE SINTAXE OU DE CONSTRUÇÃO
       
    Alteram a estrutura habitual da frase. As principais são:

1. Elipse é a supressão de um termo facilmente identificado.
Exemplo:
               Chegaremos amanhã cedo. (Nós)

2. Zeugma é a supressão de um termo já expresso anteriormente.
Exemplo:
               Paulo chegou. Teresa não. (chegou)

3. Silepse é a concordância verbal ou nominal, que se faz pela ideia e não pela forma expressada. A silepse pode ser de:
  • Silepse de gênero: Salvador continua linda.  (referência à cidade)
  • Silepse de número: A multidão gritava delirante e, de pé, aplaudiam o cantor. (muitas pessoas)
  • Silepse de pessoa: Os cientistas afirmamos que a Aids tem cura. (3ª pessoa / 1ª pessoa)
4. Polissíndeto é a repetição de conectivos numa sequência de frases.
Exemplo:
               E grita , e chora, e esperneia.

5. Assíndeto é a ausência de conectivos numa sequência de frases.
Exemplo:
               Grita, chora, esperneia.

6. Anáfora é a repetição de uma ou mais palavras no início de cada verso ou oração.
Exemplo:
              Para dizerem milho dizem mio
              Para melhor dizem mió
              Para pior pió [...]
                                                                (Oswald de Andrade)


7. Pleonasmo é a repetição de uma palavra ou de uma ideia no início das frases ou versos para enfatiza-la.
Exemplo:
               O jovem, ninguém o encontrou.


8. Anacoluto é uma construção sintática interrompida por outra, ou seja, é uma desestruturação intencional da frase.
Exemplo:
               "Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e feia." (M. Bandeira)

9. Pleonasmo é a repetição de palavras desnecessárias à compreensão, mais importante para a expressividade.
Exemplo:
               "As montanhas, vejo-as iluminadas, ardendo no grande
                                         sol amarelo."                                                (V. Moraes)

10. Hipérbato é uma inversão dos termos da frase, uma alteração na ordem direta.
Exemplo:
               "Já da morte o palor me cobre o rosto (...) "                           (Álvares de Azevedo)
              

Fonte: Help! Sistema de Consulta Interativa / Língua Portuguesa , 1995.
           Descobrindo a gramática : língua portuguesa. 9º ano / G. Giacomozzi, G. Valério,  C. M. Reda/ FTD, 2010

Nossa gramática, Luiz Antonio Sacconi





   


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