sexta-feira, 22 de julho de 2016

Prova ENEM 2003 - Língua Portuguesa/ Gabarito





ENEM 2003
1 No ano passado, o governo promoveu uma campanha a fim de reduzir os índices de violência. Noticiando o fato, um jornal publicou a seguinte manchete:
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA FASE
A manchete tem um duplo sentido, e isso dificulta o entendimento. Considerando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter sido evitado com a seguinte redação:
(A) Campanha contra o governo do Estado e a violência entram em nova fase.
(B) A violência do governo do Estado entra em nova fase de Campanha.
(C) Campanha contra o governo do Estado entra em nova fase de violência.
(D) A violência da campanha do governo do Estado entra em nova fase.
(E) Campanha do governo do Estado contra a violência entra em nova fase.

Comentário: A ambiguidade da frase ocorre pela ordem em que as palavras estão dispostas, ou seja, é um problema de ordem sintática. O termo “do governo do Estado” pode referir-se tanto a “campanha” como a “violência”, sendo, assim, um adjunto adnominal. As duas possibilidades são: (1) “campanha do governo do Estado” ou “violência do governo do Estado”. Ao modificarmos a ordem dos elementos, perceberemos clareza de ideias na alternativa E, por se tratar de uma campanha do governo contra a violência.

8 Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.
O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito. ‘Textos guardados acabam cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que, com esta frase, deu testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: publicar ou não publicar? guardar ou jogar fora?
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação literária. A ideia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons resultados está sugerida na seguinte frase:

(A) “A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa.”
(B) “Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.”
(C) “O período de maturação na gaveta é necessário, (...).”
(D) “Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.”
(E) “ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o
vinho.”

Comentário: A alternativa B indica que nem sempre a gaveta – local de maturação do texto – é a melhor saída para a seleção de textos bons e textos “não muito bons”. A cesta de papéis, segundo o contexto da frase, pode ser melhor que a gaveta, pois “trataria” dos textos de menos qualidade.

9 Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e cheirando.

                              Um cão cheirando o futuro
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. adaptação)

O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi

(A) o modo raro como foi tratado o “futuro”.
(B) a referência ao cão como “animal de estimação”.
(C) a flexão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio).
(D) a aproximação não usual do agente citado e a ação de “cheirar”.
(E) o emprego do artigo indefinido “um” e do artigo definido “o” na mesma frase.

Comentário: (A) O que surpreende o leitor de Drummond não é a aproximação não usual do agente “cão” e a ação de “cheirar”, afirmada pela alternativa D, mas o modo como foi tratado o “futuro”, como objeto de tal ação.

Instruções: As questões de números 10 e 11 referem-se ao poema abaixo.
Epígrafe*
Murmúrio de água na clepsidra** gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante***
            Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...

Homem, que fazes tu? Para que tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia portuguesa)
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; tema.
(**) Clepsidra: relógio de água.
(***) Pedra do quadrante: parte superior de um relógio de sol.

10 A imagem contida em “lentas gotas de som” (verso 2) é retomada na segunda estrofe por meio da expressão:
(A) tanta ameaça.
(B) som de bronze.
(C) punhado de areia.
(D) sombra que passa.
(E) somente a Beleza.

Comentário:  (B) Em “Gotas de som”, ocorre uma metáfora sinestésica, pois estão envolvidas duas percepções sensoriais distintas: audição e visão, que se referem às baladas de um relógio marcando a passagem do tempo. A mesma referência ao relógio ocorre na expressão “som de bronze”.

11 Neste poema, o que leva o poeta a questionar determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a:

(A) infantilidade do ser humano.
(B) destruição da natureza.
(C) exaltação da violência.
(D) inutilidade do trabalho.
(E) brevidade da vida.

Comentário: (E) Obviamente, o tema tratado no poema é a passagem do tempo e a finitude/brevidade da vida: “assim se ecoa a hora”, “assim se vive e morre”.

12 A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. (...) andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. (...) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. (...) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
(José Lins do Rego. Menino de engenho)

A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem:

(A) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco”.
(B) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações”.
(C) “Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio”.
(D) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e Uma Noites”.
(E) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas”.

Comentário: (A) A “cor local” a que a velha Totonha se referia em suas descrições corresponde ao que ela assimilava de seu meio social e físico: paisagens, personagens, dentre outros.

13                                             Pequenos tormentos da vida


De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos,
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem vai inventando
preguiçosamente uma história sem fim...Sem fim é a aula: e nada acontece,
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Margarida, se ao menos um
avião entrasse por uma janela e saísse por outra!
(Mário Quintana. Poesias)

Na cena retratada no texto, o sentimento do tédio:

(A) provoca que os meninos fiquem contando histórias.
(B) leva os alunos a simularem bocejos, em protesto contra a monotonia da aula.
(C) acaba estimulando a fantasia, criando a expectativa de algum imprevisto mágico.
(D) prevalece de modo absoluto, impedindo até mesmo a distração ou o exercício do pensamento.
(E) decorre da morosidade da aula, em contraste com o movimento acelerado das nuvens e das moscas.

Comentário: A escolha da alternativa C se justifica pela fantasia e desejo da menina de que “um avião entrasse por uma janela e saísse por outra”, correspondendo, assim, a algum imprevisto mágico.

62

 O humor presente na tirinha decorre principalmente do fato de a personagem Mafalda
a)      atribuir, no primeiro quadrinho, poder ilimitado ao dedo indicador.
b)      considerar seu dedo indicador tão importante quanto o dos patrões.
c)      atribuir, no primeiro e no último quadrinhos, um mesmo sentido ao vocábulo “indicador”.
d)      usar corretamente a expressão “indicador de desemprego”, mesmo sendo criança.
e)      atribuir, no último quadrinho, fama exagerada ao dedo indicador dos patrões.

Comentário: (C)O humor da tirinha decorre da confusão que Mafalda faz com dois diferentes sentidos de indicador – a menina, ingênua, não percebe que a palavra pode mudar de sentido ao mudar de contexto -: (1) dedo da mão e (2) índice estatístico. Se a menina não tivesse usado a palavra, no último quadrinho, com o sentido que usou no primeiro (sentido 1), a tirinha não teria tal efeito humorístico.

63

         
O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos transcritos em:


(A) “Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas.”
(Vinícius de Moraes)

(B) “Somos muitos severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima.”
(João Cabral de Melo Neto)

(C) “O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada em arquivos.”
(Ferreira Gullar)

(D) “Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os
sonhos do mundo.”
(Fernando Pessoa)
(E) “Os inocentes do Leblon
Não viram o navio entrar (...)
Os inocentes, definitivamente inocentes tudo ignoravam,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam pelas costas, e aquecem.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Comentário: Tarsila, em seu quadro, sugere que as condições desumanas de trabalho tornam os indivíduos iguais enquanto “força e instrumento de trabalho”. A diversidade e os valores individuais do ser acabam sendo diluídos. Semelhante à crítica de Tarsila são os versos de João Cabral, que falam da dissolução da individualidade dos nordestinos, consequência de um trabalho árduo e da tentativa constante de fugir da seca e da miséria.


Fonte: http://www.joseferreira.com.br/blogs/lingua-portuguesa/enem/questoes-de-lingua-portuguesa-no-enem-2003-gabarito-comentado/

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