sexta-feira, 22 de julho de 2016

ENEM 2005 - Língua Portuguesa - Gabarito











As questões 1 e 2 referem-se ao poema.

A DANÇA E A ALMA

A DANÇA? Não é movimento,
súbito gesto musical.
É concentração, num momento,
da humana graça natural.

No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança – não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.

Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...

Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir à forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.


(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)
1 A definição de dança, em linguagem de dicionário, que mais se aproxima do que está expresso no poema é
(A) a mais antiga das artes, servindo como elemento de comunicação e afirmação do homem em todos os momentos de sua existência.
(B) a forma de expressão corporal que ultrapassa os limites físicos, possibilitando ao homem a liberação de seu espírito.
(C) a manifestação do ser humano, formada por uma sequência de gestos, passos e movimentos desconcertados.
(D) o conjunto organizado de movimentos do corpo, com ritmo determinado por instrumentos musicais, ruídos, cantos, emoções etc.
(E) o movimento diretamente ligado ao psiquismo do indivíduo e, por consequência, ao seu desenvolvimento intelectual e à sua cultura.

Comentário: A definição dada pela alternativa B reproduz, com mais precisão, a dualidade da Dança expressa no poema: ela é entendida como uma arte de expansão física e também como manifestação espiritual da “humana graça”, naquilo em que transcende o corpo, permitindo ao homem a liberação das paixões de sua alma.

2 O poema “A Dança e a Alma” é construído com base em contrastes, como “movimento” e “concentração”. Em uma das estrofes, o termo que estabelece contraste com solo é:

(A)  éter. (B) seiva. (C) chão. (D) paixão. (E) ser.

Comentário: As palavras encontram-se em relação de oposição, tratando-se de uma antítese: “No solo não, no éter pairamos”. A título de curiosidade, “éter” significa, em outras acepções, ‘espaço celeste’. (A)

6 Leia com atenção o texto:
[Em Portugal], você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias são peúgas. Suéter é camisola — mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?)
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)

O texto destaca a diferença entre o português do Brasil e o de Portugal quanto

(A) ao vocabulário.
(B) à derivação.
(C) à pronúncia.
(D) ao gênero.
(E) à sintaxe

Comentário: O texto de Ruy Castro explora a variação linguística, em especial, as variantes lexicais (vocabulário) de Portugal. (A)

Texto para as questões 20 e 21.

Cândido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX, tratou de diferentes aspectos da nossa realidade em seus quadros.



Sobre a temática dos “Retirantes”, Portinari também escreveu o seguinte poema:
(....)
Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhos
Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos
Doloridos como fagulhas de carvão aceso

Corpos disformes, uns panos sujos,
Rasgados e sem cor, dependurados

Homens de enorme ventre bojudo
Mulheres com trouxas caídas para o lado

Pançudas, carregando ao colo um garoto
Choramingando, remelento
(....)
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1964.)
20 Das quatro obras reproduzidas, assinale aquelas que abordam a problemática que é tema do poema.

(A) 1 e 2         (B) 1 e 3           (C) 2 e 3          (D) 3 e 4            (E) 2 e 4

Comentário: Nessa questão, é bastante evidente a correspondência entre a descrição e o tema do poema e as imagens 2 e 3. (C)

33 O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio, denotativo ocorre em

(A)“(....)
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Dessa vida, cumprida a sol (....)”
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.
setembro de 1992.)

(B)
“Protegendo os inocentes
é que Deus, sábio demais,
põe cenários diferentes
nas impressões digitais.”
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)

(C)
“O dicionário-padrão da língua
e os dicionários unilíngües são
os tipos mais comuns de
dicionários. Em nossos dias,
eles se tornaram um objeto de
consumo obrigatório para as
nações civilizadas e
desenvolvidas.”
(Maria T. Camargo Biderman. O
dicionário-padrão da língua. Alfa (28),
2743, 1974 Supl.)

(D)





                  (O Globo. O menino maluquinho. agosto de 2002.)
(E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas
no raciocínio dos outros. Há duas
espécies de humorismo: o trágico e o
cômico. O trágico é o que não
consegue fazer rir; o cômico é o que é
verdadeiramente trágico para se fazer.”
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.
acessado em julho de 2005.)
Comentário: (C) A linguagem denotativa ou literal aparece apenas na alternativa C, em que “dicionário-padrão” foi empregado em seu sentido próprio e preciso, significando: “coleção organizada, em forma alfabética, de palavras e unidades lexicais de uma língua”. Nas demais alternativas, a linguagem é conotativa, pois as expressões sublinhadas são empregadas em sentido metafórico.

56 Leia estes textos.
Texto 1






(QUINO. O mundo da Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 3)
Texto 2
Sonho Impossível


Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão

Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.


(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)


A tirinha e a canção apresentam uma reflexão sobre o futuro da humanidade. É correto concluir que os dois textos

(A) afirmam que o homem é capaz de alcançar a paz.

(B) concordam que o desarmamento é inatingível.

(C) julgam que o sonho é um desafio invencível.

(D) têm visões diferentes sobre um possível mundo melhor.

(E) transmitem uma mensagem de otimismo sobre a paz.

Comentário: Os textos apresentam visões diferentes sobre um possível mundo melhor. O texto Sonho Impossível acredita na possibilidade, ainda que mínima, de um mundo melhor. Isso fica claro nos versos finais: “vai ter fim a infinita aflição/ E o mundo vai ver uma flor/ brotar do impossível chão”. Já a tira de Quino não tem essa mesma crença. O aviãozinho de Mafalda, feito de jornal com a manchete “Nova tentativa de desarmamento”, ao ser lançado, espatifa-se no chão. Tal desastre simboliza o fracasso da(s) iniciativa(s) de desarmamento, assim como se pode depreender da última fala da menina.

Leia estes poemas



Texto 1 - Auto-retrato

Provinciano que nunca soube

Escolher bem uma gravata;

Pernambucano a quem repugna

A faca do pernambucano;

Poeta ruim que na arte da prosa

Envelheceu na infância da arte,

E até mesmo escrevendo crônicas

Ficou cronista de província;

Arquiteto falhado, músico

Falhado (engoliu um dia

Um piano, mas o teclado

Ficou de fora); sem família,

Religião ou filosofia;

Mal tendo a inquietação de espírito

Que vem do sobrenatural,

E em matéria de profissão

Um tísico* profissional.

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa.

Rio de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)



Texto 2 - Poema de sete faces



Quando eu nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

(....)

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo

mais vasto é o meu coração.

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa.

Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 53.)

(*) tísico=tuberculoso

58

Esses poemas têm em comum o fato de

(A) descreverem aspectos físicos dos próprios autores.

(B) refletirem um sentimento pessimista.

(C) terem a doença como tema.

(D) narrarem a vida dos autores desde o nascimento.

(E) defenderem crenças religiosas.

Comentário: (B) Em ambos os poemas há um sentimento pessimista. Em “Auto retrato” o eu lírico julga-se um “poeta ruim”, “arquiteto falhado”, “músico falhado”, “tísico profissional”. Igualmente pessimista, no “Poema de sete faces”, o eu lírico não se adaptou à vida, pois é um gauche, sujeito torto, canhestro, retraído e espantado, diante do absurdo do mundo.

59 No verso “Meu Deus, por que me abandonaste” do texto 2, Drummond retoma as palavras de Cristo, na cruz, pouco antes de morrer. Esse recurso de repetir palavras de outrem equivale a



(A) emprego de termos moralizantes.

(B) uso de vício de linguagem pouco tolerado.

(C) repetição desnecessária de ideias.

(D) emprego estilístico da fala de outra pessoa.

(E) uso de uma pergunta sem resposta.

Comentário: (D)O próprio enunciado afirma que se trata de “repetir palavras de outrem”, portanto, é um emprego estilístico da fala de outra pessoa.

63 Leia o texto e examine a ilustração:


Óbito do autor

(....) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de

1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos,

rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui

acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não

houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia peneirava uma chuvinha

miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis

da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira

de minha cova: “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer

comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos

mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas

gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe

funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas

entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” (....)

(Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Ilustrado por

Cândido Portinari. Rio de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p.1.)

Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a ilustração do pintor

(A) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal.

(B) retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis.

(C) distorce a cena descrita no romance.

(D) expressa um sentimento inadequado à situação.

(E) contraria o que descreve Machado de Assis.

Comentário: (A)Nessa questão, notamos que Portinari foi fiel em alguns aspectos descritivos do texto, como, por exemplo, os amigos presentes no cemitério, a chuva, a presença de um orador proferindo um discurso. No entanto há detalhes, na ilustração, que estão ausentes no texto verbal, como as montanhas no fundo, outros túmulos, arbustos, guarda-chuvas, elementos que podem ser subentendidos pelo texto, mas que não foram explicitados.

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