Instruções:
As questões de
números 20 e 21 referem-se ao poema abaixo.
Brasil
O Zé Pereira
chegou de caravela
E preguntou pro
guarani da mata virgem
― Sois cristão?
― Não. Sou bravo,
sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá
Quizá Quecê!
Lá longe a onça
resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo
saído da fornalha
Tomou a palavra e
respondeu
― Sim pela graça
de Deus
Canhem Babá Canhem
Babá Cum Cum!
E fizeram o
Carnaval
(Oswald
de Andrade)
21
A polifonia, variedade
de vozes, presente no poema resulta da manifestação
(A) poeta e do colonizador
apenas.
(B) colonizador e do negro
apenas.
(C) negro e do índio apenas.
(D) colonizador, do poeta e do
negro apenas.
(E)
poeta, do colonizador, do índio e do negro.
Comentário:
(E) O poema apresenta, claramente, as vozes do poeta – que narra o episódio –, do
colonizador Zé Pereira , do índio e do negro.
22 O jivaro
Um Sr. Matter, que
fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa
com um índio jivaro,
desses que sabem
reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma
dessas operações, e
o índio lhe disse
que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo.
O Sr. Matter:
― Não, não! Um
homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco.
E o índio:
― Por que um
macaco? Ele não me fez nenhum mal!
Rubem
Braga
O assunto de uma crônica pode ser
uma experiência pessoal do cronista, uma informação obtida por ele ou um caso
imaginário. O modo de apresentar o assunto também varia: pode ser uma descrição
objetiva, uma exposição argumentativa ou uma narrativa sugestiva. Quanto à
finalidade pretendida, pode-se promover uma reflexão, definir um sentimento ou
tão-somente provocar o riso. Na crônica O jivaro, escrita a partir da
reportagem de um jornal, Rubem Braga se vale dos seguintes elementos:
Assunto Modo de
apresentar Finalidade
(A) caso imaginário descrição objetiva provocar
o riso
(B)
informação colhida
narrativa sugestiva promover reflexão
(C) informação colhida descrição objetiva definir um sentimento
(D) experiência pessoal narrativa sugestiva provocar o riso
(E) experiência pessoal exposição argumentativa promover reflexão
Comentário: (B)
O assunto do texto é obviamente uma “informação colhida”, como informa o
enunciado da questão, “na reportagem de um jornal”. O modo é, claramente,
narrativo, tratando-se de uma “história sugestiva”, pois sugere significação
que vai além do que é narrado. Portanto, trata-se de um texto que tem por
finalidade “promover reflexão” – acerca das relações humanas e da justiça
presente na fala do índio.
24
O movimento hip-hop
é tão urbano quanto as grandes construções de concreto e as estações de
metrô, e cada dia se torna mais presente nas grandes metrópoles mundiais.
Nasceu na periferia dos bairros pobres de Nova Iorque. É formado por três
elementos: a música (o rap), as artes plásticas (o grafite) e a dança (o
break). No hip-hop os jovens usam as expressões artísticas como
uma forma de resistência política. Enraizado nas camadas populares urbanas, o hip-hop
afirmou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a favor dos excluídos,
sobretudo dos negros. Apesar de ser um movimento originário das periferias
norte-americanas, não encontrou barreiras no Brasil, onde se instalou com certa
naturalidade – o que, no entanto, não significa que o hip-hop brasileiro
não tenha sofrido influências locais. O movimento no Brasil é híbrido: rap com
um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafite de cores muito
vivas.
(Adaptado
de Ciência e Cultura, 2004)
De acordo com o texto, o hip-hop
é uma manifestação artística tipicamente urbana, que tem como principais
características
(A) a ênfase nas artes visuais e
a defesa do caráter nacionalista.
(B) a alienação política e a
preocupação com o conflito de gerações.
(C)
a afirmação dos socialmente excluídos e a combinação de linguagens.
(D) a integração de diferentes
classes sociais e a exaltação do progresso.
(E) a valorização da natureza e o
compromisso com os ideais norte-americanos.
Comentário:
(C) A característica da alternativa C corresponde, exatamente, ao que o texto
apresenta: “a afirmação dos socialmente excluídos” = “um
discurso político a favor dos excluídos” e a “a combinação de linguagens” = “é
formado por três elementos: a música (o rap),
as artes plásticas (o grafite) e a dança (o break)”.
25
Nesta tirinha, a personagem faz
referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem para
(A) condenar a prática de exercícios físicos.
(B) valorizar aspectos da vida moderna.
(C) desestimular o uso das bicicletas.
(D) caracterizar o diálogo entre gerações.
(E) criticar a
falta de perspectiva do pai.
Comentário:
(E) O garoto estabelece uma comparação (base da metáfora) entre os exercícios que o
pai pratica numa bicicleta ergométrica (que não o conduzem a lugar nenhum) e a
sua “falta de perspectiva” em relação à vida.
Cidade Grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)
26 Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a
(A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
(B) intertextualidade, na qual o
texto retoma e reelabora outros textos.
(C)
ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção
crítica.
(D) denotação, caracterizada pelo
uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
(E)
prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes
vida.
Comentário:
(C) A ironia está presente nos quatro últimos versos que apresentam o processo de “desenvolvimento”
e “progresso” da cidade de Montes Claros, citados como algo positivo e
invejável, na comparação com a cidade do Rio de Janeiro, que já tem muitas
favelas. No texto de Drummond, esse “progresso” e a visão da cidade grande
aparecem indissoluvelmente associadas às mazelas da sociedade. Trata-se,
portanto, de uma visão irônica do progresso.
27
No trecho
“Montes Claros cresceu tanto,/ (...),/ que já tem cinco favelas”, a palavra que
contribui para estabelecer uma relação de consequência. Dos seguintes
versos, todos de Carlos Drummond de Andrade, apresentam esse mesmo tipo de
relação:
(A) “Meu Deus, por que me
abandonaste / se sabias que eu não era Deus / se sabias que eu era fraco.”
(B) “No meio-dia branco de luz
uma voz que aprendeu / a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu /
chamava para o café.”
(C) “Teus ombros suportam o mundo
/ e ele não pesa mais que a mão de uma criança.”
(D)
“A ausência é um estar em mim. / E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos
meus braços, / que rio e danço e invento exclamações alegres.”
(E)
“Penetra surdamente no reino das palavras. / Lá estão os poemas que esperam ser
escritos.”
Comentário:
(D) A conjunção “que” estabelece uma relação de consequência entre as orações “rio
e danço e invento exclamações alegres” e a anterior. O conectivo “que”, quando
precedido de palavras como “tanto”, “tão”, “tal”, estabelece uma relação
consecutiva.
59
Da minha aldeia
vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso minha
aldeia é grande como outra qualquer
Porque sou do
tamanho do que vejo
E não do tamanho
da minha altura...
(Alberto
Caeiro)
A tira “Hagar” e o poema de
Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com
linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do
mundo é condicionada, essencialmente,
(A) pelo alcance de
cada cultura.
(B) pela capacidade visual do observador.
(C) pelo senso de humor de cada um.
(D) pela idade do observador.
(E) pela altura do ponto de
observação.
Comentário:
(A) Os modos como Hagar e Caeiro enxergam o mundo são peculiares e não correspondem
ao modo científico; a visão de mundo que eles têm é explicada por suas crenças
culturais que, aparentemente, não são ainda desenvolvidas a ponto de descobrir
e concordar com a verdade científica.
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