sexta-feira, 22 de julho de 2016

Prova ENEM 2004 - Língua Portuguesa/ Gabarito





Instruções: As questões de números 20 e 21 referem-se ao poema abaixo.

Brasil

O Zé Pereira chegou de caravela

E preguntou pro guarani da mata virgem

― Sois cristão?

― Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte

Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!

Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!

O negro zonzo saído da fornalha

Tomou a palavra e respondeu

― Sim pela graça de Deus

Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!

E fizeram o Carnaval

(Oswald de Andrade)

21 A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação

(A) poeta e do colonizador apenas.

(B) colonizador e do negro apenas.

(C) negro e do índio apenas.


(D) colonizador, do poeta e do negro apenas.

(E) poeta, do colonizador, do índio e do negro.

 Comentário: (E) O poema apresenta, claramente, as vozes do poeta – que narra o episódio –, do colonizador Zé Pereira , do índio e do negro.



22           O jivaro

Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro,

desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e

o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo.

O Sr. Matter:

― Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco.

E o índio:

― Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal!

                                                                                                                                 Rubem Braga

O assunto de uma crônica pode ser uma experiência pessoal do cronista, uma informação obtida por ele ou um caso imaginário. O modo de apresentar o assunto também varia: pode ser uma descrição objetiva, uma exposição argumentativa ou uma narrativa sugestiva. Quanto à finalidade pretendida, pode-se promover uma reflexão, definir um sentimento ou tão-somente provocar o riso. Na crônica O jivaro, escrita a partir da reportagem de um jornal, Rubem Braga se vale dos seguintes elementos:

          Assunto                                 Modo de apresentar                                     Finalidade

(A) caso imaginário                      descrição objetiva                                  provocar o riso

(B) informação colhida                    narrativa sugestiva                              promover reflexão

(C) informação colhida                    descrição objetiva                                definir um sentimento

(D) experiência pessoal                narrativa sugestiva                                 provocar o riso

(E) experiência pessoal           exposição argumentativa                         promover reflexão

Comentário: (B) O assunto do texto é obviamente uma “informação colhida”, como informa o enunciado da questão, “na reportagem de um jornal”. O modo é, claramente, narrativo, tratando-se de uma “história sugestiva”, pois sugere significação que vai além do que é narrado. Portanto, trata-se de um texto que tem por finalidade “promover reflexão” – acerca das relações humanas e da justiça presente na fala do índio.

 24 O movimento hip-hop é tão urbano quanto as grandes construções de concreto e as estações de metrô, e cada dia se torna mais presente nas grandes metrópoles mundiais. Nasceu na periferia dos bairros pobres de Nova Iorque. É formado por três elementos: a música (o rap), as artes plásticas (o grafite) e a dança (o break). No hip-hop os jovens usam as expressões artísticas como uma forma de resistência política. Enraizado nas camadas populares urbanas, o hip-hop afirmou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a favor dos excluídos, sobretudo dos negros. Apesar de ser um movimento originário das periferias norte-americanas, não encontrou barreiras no Brasil, onde se instalou com certa naturalidade – o que, no entanto, não significa que o hip-hop brasileiro não tenha sofrido influências locais. O movimento no Brasil é híbrido: rap com um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafite de cores muito vivas.

(Adaptado de Ciência e Cultura, 2004)



De acordo com o texto, o hip-hop é uma manifestação artística tipicamente urbana, que tem como principais características

 (A) a ênfase nas artes visuais e a defesa do caráter nacionalista.

(B) a alienação política e a preocupação com o conflito de gerações.

(C) a afirmação dos socialmente excluídos e a combinação de linguagens.

(D) a integração de diferentes classes sociais e a exaltação do progresso.

(E) a valorização da natureza e o compromisso com os ideais norte-americanos.

 Comentário: (C) A característica da alternativa C corresponde, exatamente, ao que o texto apresenta: “a afirmação dos socialmente excluídos” = “um discurso político a favor dos excluídos” e a “a combinação de linguagens” = “é formado por três elementos: a música (o rap), as artes plásticas (o grafite) e a dança (o break)”.



25
Nesta tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem para

 (A) condenar a prática de exercícios físicos.

(B) valorizar aspectos da vida moderna.

(C) desestimular o uso das bicicletas.

(D) caracterizar o diálogo entre gerações.

(E) criticar a falta de perspectiva do pai.

 Comentário: (E) O garoto estabelece uma comparação (base da metáfora) entre os exercícios que o pai pratica numa bicicleta ergométrica (que não o conduzem a lugar nenhum) e a sua “falta de perspectiva” em relação à vida.


Instruções: As questões de números 26 e 27 referem-se ao poema abaixo.

Cidade Grande

Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)


26 Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a

(A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.

(B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.

(C) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.

(D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.

(E) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

Comentário: (C) A ironia está presente nos quatro últimos versos que apresentam o processo de “desenvolvimento” e “progresso” da cidade de Montes Claros, citados como algo positivo e invejável, na comparação com a cidade do Rio de Janeiro, que já tem muitas favelas. No texto de Drummond, esse “progresso” e a visão da cidade grande aparecem indissoluvelmente associadas às mazelas da sociedade. Trata-se, portanto, de uma visão irônica do progresso.

27 No trecho “Montes Claros cresceu tanto,/ (...),/ que já tem cinco favelas”, a palavra que contribui para estabelecer uma relação de consequência. Dos seguintes versos, todos de Carlos Drummond de Andrade, apresentam esse mesmo tipo de relação:

 (A) “Meu Deus, por que me abandonaste / se sabias que eu não era Deus / se sabias que eu era fraco.”

(B) “No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu / a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu / chamava para o café.”

(C) “Teus ombros suportam o mundo / e ele não pesa mais que a mão de uma criança.”

(D) “A ausência é um estar em mim. / E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, / que rio e danço e invento exclamações alegres.”

(E) “Penetra surdamente no reino das palavras. / Lá estão os poemas que esperam ser escritos.”

Comentário: (D) A conjunção “que” estabelece uma relação de consequência entre as orações “rio e danço e invento exclamações alegres” e a anterior. O conectivo “que”, quando precedido de palavras como “tanto”, “tão”, “tal”, estabelece uma relação consecutiva.

59        
                                                                                                                                   
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer

Porque sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...

                                                          (Alberto Caeiro)                            

A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencialmente,

 (A) pelo alcance de cada cultura.

(B) pela capacidade visual do observador.

(C) pelo senso de humor de cada um.

(D) pela idade do observador.

(E) pela altura do ponto de observação.

 Comentário: (A) Os modos como Hagar e Caeiro enxergam o mundo são peculiares e não correspondem ao modo científico; a visão de mundo que eles têm é explicada por suas crenças culturais que, aparentemente, não são ainda desenvolvidas a ponto de descobrir e concordar com a verdade científica.




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