quinta-feira, 21 de abril de 2016

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL


     Um texto não pode ser construído com frases soltas, desconexas e a alteração da sequência de suas partes pode modificar profundamente seu sentido. Para um texto ter unidade de sentido , para ser um todo coerente, é necessário que apresente textualidade, isto é, que apresente conexões gramaticais e articulação de ideias. Ou seja, que apresente coesão e coerência textuais.

    Coesão textual são as conexões gramaticais existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto.
    As palavras que realizam conexões gramaticais, também chamados conectores, são substantivos, pronomes, conjunções, preposições, etc. São comuns nesse papel ainda palavras como isso, então, aliás, também, isto é, entretanto, e, por isso, daí, porém, mas, entre outras.
    Como os conectores são portadores de sentido, eles também contribuem para construir a coerência de um texto.
Veja o exemplo abaixo:

" Existe um outro tipo de corrupção na política da qual nós nunca falamos: é a corrupção do sistema político. Esta não se trata de surrupiar o bem público. Ela consiste em tomar decisões com base em influências questionáveis, e não com vista no que é melhor para resolver problemas e melhorar o país. Trata-se de um sistema eu funciona melhor para uns do que para outros porque deveria nos representar, mas não nos representa."

    No texto acima, o pronome demonstrativo "esta" e o pronome pessoal "ela" remetem à "corrupção do sistema político." Este tipo de coesão é conhecido como remissão anafórica - quando uma palavra ou expressão retorna outra. Já a conjunção "porque" é um conectivo que estabelece uma relação de causa, enquanto a conjunção "mas" estabelece uma relação de adversidade. Logo, a coesão refere-se à forma ou à superfície de um texto. Ela é mantida  por meio de procedimentos gramaticais, isto é, pela escolha do conectivo adequado na conexão dos diversos enunciados que compõem um texto.
   
    Coerência textual é a estruturação lógico-semântica de um texto, isto é, a articulação de ideias que faz com que numa situação discursiva palavras e frases componham um todo significativo para os interlocutores.
    Um dos princípios básicos da coerência textual é a não contradição, ou seja, as ideias não podem ser contraditórias entre si nem apresentar incoerência em relação à realidade, a não ser que a contradição seja proposital.
Veja o exemplo abaixo:

" Existe um outro tipo de corrupção na política da qual nós nunca falamos: é a corrupção do sistema político. Portanto, esta não se trata de surrupiar o bem público. Ela consiste em tomar decisões com base em influências questionáveis, e não com vista no que é melhor para resolver problemas e melhorar o país. Trata-se de um sistema eu funciona melhor para uns do que para outros por isso deveria nos representar, por conseguinte não nos representa."

   Observe que, no texto que você acabou de ler, foram inseridos elementos conectivos que, mal empregados, terminaram deixando o texto confuso, incoerente. Nesse sentido, é importante notar que, por vezes, a coesão leva a um problema de coerência em um texto, apesar de serem fenômenos distintos. A coerência resulta da relação harmoniosa entre os pensamentos ou ideias apresentados num texto sobre determinado assunto. Refere-se, dessa forma, ao conteúdo, ou seja, à sequência ordenada das opiniões ou fatos expostos.


A Coerência e o Contexto Discursivo

     Além da não contradição e dos conectores, outro aspecto importante para avaliar a coerência de um texto é o contexto discursivo. Imagine , por exemplo, as falas seguintes, ditas por uma mãe e seus filhos:
---- Está armando uma chuva muito forte. Por isso, ninguém sai de casa!
---- Está armando uma chuva muito forte. Por isso, vamos sair de casa!
 
    Os dois enunciados estão estruturalmente bem-formados, pois fazem uso do recurso coesivo por isso, portanto, pode-se considerar que ambos apresentam coesão. Entretanto, pelo sentido das falas, tendemos a julgar como coerente apenas o primeiro enunciado, pelo fato de geralmente pressupormos  que, se uma chuva muito forte está por vir, as pessoas não devem sair de casa. 


    Vejamos estas duas manchetes de jornal:

Rio sobe com chuva e secretário recomenda ao carioca ficar em casa.
                                                                                                                                                     ( O Globo, 29/1/2012)

Chuvas expulsam mais de 14 mil pessoas de casa no Estado do Rio.
Bombeiros resgatam família soterrada dentro de fusca nesta quarta.
                                                                                                                                                             (  R7, 11/1/2012)


     No contexto discursivo da primeira manchete, o primeiro enunciado mantém-se coerente, pois ficar em casa equivale a segurança. No contexto discursivo da segunda manchete, entretanto, o enunciado "Chuvas expulsam mais de 14 mil pessoas de casa no Estado do Rio" também  é coerente , pois, nessa situação, ficar em casa implica risco.
     Como se vê, coerência e coesão são fatores de textualidade regulados pelo contexto discursivo. Não podem, assim, ser avaliadas em frases isoladas, desvinculadas dos textos em que estavam originalmente inseridas, desconsiderando-se a situação de comunicação.

IMPORTANTE!
A incoerência não se dá apenas por problemas com conectivos, mas por falta de relação entre as partes. Pode ocorrer, inclusive, um texto sem o uso explícito de elementos coesivos , mas que , em sua textualidade, não deixa de ser coerente.
Exemplo.

Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada. (...)

Coesão não é condição necessária nem suficiente para que um texto seja um texto. Mas o uso de elementos de coesão assegura a legibilidade, explicitando os tipos de relação entre os segmentos do texto.





Fonte: Texto e Interação - William Cereja e Thereza Cochar / 2013.
            Linguagem e Códigos - Português I / Abril coleções - São Paulo, 2012.

   
    

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